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Carta aos amores que eu tive e não vivi por nunca ter tentado






Fecho os olhos, vejo-me uma menina tímida, olhar inocente, sorriso maroto, e coração sincero. A primeira vez que te vi naquela sala de aula da primeira classe, fizeste o meu coração sentir uma energia tal que batia acelerado como se o simples facto de olhar para ti, tivesse a sensação de andar na maior montanha russa do mundo. Mas no auge dos meus cinco para seis anos, não sabia que sensação era essa. E a do amor? Essa tão pouco...Mas hoje com trinta e quatro anos, e apesar de nunca ter andado de montanha russa, fecho os olhos, volto àquela menina que fui, e agora sei que era amor, porque tudo que é sentido com o coração é incondicional. 

A primeira-classe passou, a segunda a terceira e a quarta, nunca te revelei tal sentimento, nem eu própria sabia o que revelar, decifrar sentimentos, mas agora sei que os sentimentos não se explicam, sentem-se.

Olhavas para mim, falavas, brincavas comigo, explodia em alegria, controlada, sempre controlada, parecia que era feio mostrar alguma ponta de interesse. A dúvida, ficou sempre no ar, será que ele sentia o mesmo que eu? Não sei, não sei e nunca o vou saber. Veio o quinto ano, e ficamos separados…As palavras ficaram caladas, engasgadas no tempo, as memorias no entanto falam mais do que deviam…neste momento correm-me lágrimas pelo rosto, nem sei porque caiem…saudades desse primeiro amor que senti e nunca revelei? Ou saudades de voltar a ser criança e voltar a sentir sem saber o que sentia? Primeiro amor que tive e que nunca vivi por nunca ter tentado…



A menina cresceu mais um pouco, mudou de escola, e estava no quinto ano, a memoria do primeiro amor ainda estava bem fresca, e como tal olhava em volta e o meu coração estava sossegado, que bom que era pensava eu, mas no fundo sentia falta daquela adrenalina, daquele compasso descompassado que tinha perdido algures por aí…No entanto nada fica para sempre, veio o sexto, o sétimo, e o oitavo ano que me fizeram despertar quase de um sono profundo de emoções, a não ser as de inferioridade e timidez que me colheram grande parte da infância, mas isto dava outra carta…

Os meus olhos começaram a piscar por dois meninos quase em simultâneo, sim e da mesma turma, como era possível? Gostei de ti e de ti! Sim, tu que provavelmente estás a ler e não sabes, mas enchias a minha cabeça sonhadora de filmes românticos, daqueles com balões brancos em que a legenda dizia: «Quero-te para todo o sempre» e terminava com um beijo apaixonado. O engraçado era que os dois se metiam comigo, mas eu mais uma vez ignorava, pensava que era brincadeiras de colegas de escola, refugiava-me nos intervalos de toda a gente, ficava eu e os meus amores platónicos. Agora dá-me para rir, ainda me lembro que tinham os dois o mesmo nome, um de cabelo curto, o outro mais radical tinha cabelos pelos ombros. Suspiro mais uma vez…

As apalpadelas nesse tempo de escola eram normais, os rabiosques das meninas eram apetecíveis para os meninos no início da puberdade, eu, eu olhava-me ao espelho e achava-me feia, gorda, com borbulhas gingantes na cara e mais uma vez refugiava-me no silêncio dos meus sentimentos, tivesse sido amor, paixão ou simplesmente uma atração que senti por ambos quase em simultâneo do oitavo ao nono ano, nunca o revelei, nunca me cheguei à frente, nunca encarei de frente o que estava a sentir…Se eles algumas vez sentiram o mesmo? Não sei, e nunca vou saber…Segundos amores que tive e que nunca vivi por nunca ter tentado…
O tempo passou, veio o décimo ano, a escola era novamente outra, eu era a mesma. Fecho os olhos e volto a ter quinze anos. Cresci, mas o meu coração permanecia o mesmo, romântico, sonhador, sincero, mas sozinho, sempre sozinho. Cresceu comigo, a vergonha, a timidez, o medo da rejeição. O espelho continuava a mostrar as borbulhas grandes no rosto, o cabelo fino e sem volume, a pele com crateras enormes, um corpo flácido e cheiinho, e a minha auto estima estava no limiar da pobreza. Porquê? Não sei…Mas isso dava outra carta…

O primeiro e os segundos amores o vento já tinha levado, vieram os terceiros os quartos, os quintos do décimo ao décimo segundo ano, tudo platonicamente, acho que sempre me refugiei nesta lado do amor, afinal de contas aqui não há dor emocional real, será que deste a minha raiz sempre tive medo disso? Da dor emocional real? Perdi todos os amores que tive e que nunca vivi por nunca ter tentado…
Vinte anos, menos borbulhas, mais marcas de acne na cara, mais formas arredondadas no corpo, mais timidez, mais paranoias dos meus fantasmas do pensamento, nenhum amor real, muitos sonhados, nenhum realizado muito menos declarados, nenhum beijo na boca dado nem recebido. A minha confiança em mim já era pouca e com o avançar da idade foi como tivesse soltado o para-quedas e caísse sem colete de segurança num buraco sem fundo. Fechava-me em casa semanas e semanas, só via a luz do dia pela janela da sala. Não andava mais na escola, não trabalhava, não vivia emoções…Hoje sei reconhecer que tive uma adolescência desperdiçada de sentimentos de amor vividos… Mas o relógio da vida não pára…

Vinte e dois anos…o primeiro amor real…Não deu certo mas hoje é uma das minhas melhores memorias, e hoje eu penso o que poderia ter vivido e não vivi por nunca ter tentado…
Não tenham medo dos sentimentos e de não serem correspondidos, o não, não é garantido, amem-se acima de tudo, a pessoa mais importante da nossa vida somos nós. Amor incondicional. Não se arrependam do que fizeram, mas sim do que deixaram de fazer ou dizer, limpa a alma e o coração por amor, por amor vale tudo. Estou a chorar de coração limpo. E agora que sei o que é o amor, vou querer experimentar a montanha russa! Medo? Que ele nos sirva para nos proteger mas nunca para nos colher a vida e muito menos os sonhos.
 O passado já não volta, o futuro é uma ilusão, vivam o presente, eu juro que vou fazer o mesmo.

Sejam felizes




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