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Ricardo e Libório... Amor é amor Ponto Final...


Meus amores, hoje trago para vocês uma historia de amor! Alias é o amor que enche e preenche a nossa vida. Ricardo e Libório um amor não de sempre mas para sempre...O amor é universal, é incondicional e o amor não tem sexo, ele é energia ele é sentimento ele é amor...Mais forte que o preconceito é o mais puro sentimento sem explicação consensual, pois cada pessoa tem a sua definição de amor.

Não é preciso explicar tudo por palavras, porque o melhor da vida não se diz, apenas sente-se! Esta historia, este exemplo de amor diz me muito pois Libório é meu primo lindo que eu amo muito e que desde pequeno o acompanho, sempre com um olhar cativante e um sorriso cheio de luz, cheio de carinho, cheio de amor. Libório é o meu primo do coração, vi crescer, vi ele tornar-se um homem e nunca mas nunca perdeu a sua essência o seu carisma, lembro-me dele pequeno sempre a dar afecto, a dar abraços, beijinhos a dar simplesmente a mão, ele cresceu e o carinho e amor cresceram com ele. Obrigada meu primo mais lindo por todo o amor que tens dentro de ti e que sempre me demonstras-te, tenho um orgulho enorme em ser tua prima. Obrigada... 

Ricardo meu novo primo, pois se é o homem da vida do meu primo Libório também já faz parte da minha família,  e foi um gosto e um orgulho imenso te conhecer, e perceber que és um sorriso aberto para o mundo, um menino doce e cheio de qualidades e amor no coração. Obrigada por seres quem és e quero ter-te sempre por perto.

Venham então daí conhecer esta historia de amor...



Nome: Ricardo Correia
Idade: 21
Data Nascimento: 24-12-1996
Signo: Capricórnio
Profissão: Vendedor de Loja
Naturalidade: Funchal, Madeira





Nome: Libório Aguiar
Idade: 20
Data Nascimento: 18-10-1998
Signo: Balança
Profissão: Contabilidade 
Naturalidade: Funchal, Madeira



Margarida Menezes: Como definem a palavra «amor»?

Ricardo Correia: Sou completamente fã desta palavra, desde sempre creio eu, embora durante algum tempo tenha tido muita dificuldade em interpreta-la e até mesmo expressá-la, até há bem pouco tempo não era de mostrar afectos só porque sim, sempre o fiz de uma forma reservada, quem me conhece sabe do que falo.


Mas para mim, AMOR, é tudo, seja vindo da família, dos amigos ou da pessoa com quem estamos. É a base de que todos nós precisamos. 

Amor é uma palavra pequena, que carrega um grande significado, que, eu com 21 anos arrisco-me a dizer que quase que aposto que muita gente ainda não sabe o seu verdadeiro significado.
Para mim, o mais importante na vida é o AMOR. Sem ele nada acontece, nada é possível e nada tem significado. 


O amor é a chave da felicidade, é ele que nos faz SENTIR, que nos faz VIVER e que nos faz AMAR e ser AMADO. É o amor que faz a diferença. É ele que une vidas, que cria famílias, e que liga corações. É ele que transforma o difícil no mais fácil, que diminui a dor e que nos faz sentir emoções. 

Só quem ama é que sabe o que realmente é o Amor e qual a sua dimensão. Ele é universal, é ímpar, só existe um, só existe uma forma de amar e basta ser verdadeira para ser para sempre.




Aconteça o que acontecer eu, vou seguir sempre o meu caminho com amor no coração, porque com ele é tudo mais fácil.

Libório Aguiar: A palavra amor é aquela palavra que tem inúmeros significados, todos eles diferentes, dependendo da visão de cada um de nós. Para mim, amor é ter cumplicidade, em tudo na vida, seja nas alegrias, nos sonhos, na felicidade e até mesmo nos insucessos que possam surgir. É caminhar um ao lado do outro, contra tudo e todos, sempre de mãos dadas. Venha o que vier! É saber estar, conviver e ter acima de tudo respeito pelo outro. Amor é ser feliz! 



Amor é amor sempre, e não existe um amor homossexual, outro heterossexual, ou de outro tipo qualquer. Amor é amor. E é isso que existe! Ninguém ama um sexo ou até mesmo uma definição. Ama-se uma pessoa pelo inteiro e não por partes. O amor é só amor. O resto… é resto!






Margarida Menezes: Como começou então a vossa história de amor?

Ricardo: A tal pergunta que nunca falta a quem nos aborda com este tema. A mais fácil que no fundo é a mais difícil de responder, falo por mim.
Considero-a difícil porque remete-me para uma fase menos boa da minha vida, (a morte da minha mãe) À qual o Libório fez com que aceitasse e que fosse esquecendo aos poucos, mas que até hoje deixa marca. E vai deixar sempre…

A nossa história começou de uma forma muito simples, e rápida também. Acredito que estava assim destinado a acontecer, por diversas situações a que nós os dois chamamos de “coincidências da vida”. Conhecemo-nos num dia, no outro fomos ao café, onde esperei por ele mais de uma hora (pensei seriamente em ir embora) e no outro ele foi ver um dos meus desfiles e logo no outro pelas 23:30, ele fez a tal pergunta, que nos uniu até os dias de hoje.


Como podes perceber, foi tudo muito rápido, mas se assim aconteceu, porque não? Porquê e para quê estar à espera do momento certo?



Está tudo certo, como diz a Ferreirinha! Parece que tudo tem lógica, e que foi feito para acontecer mesmo assim.
O Libório defende que foi a minha mãe que o encaminhou para a minha vida, e eu partilho da mesma opinião. Pode parecer banal e estranho, mas faz mesmo sentido.


Há muitas coisas simples que nos acontecem que olhamos um para o outro e dizemos: “é o destino”, “mais uma coincidência”. E que assim seja por muito tempo.

Sabes, o teu primo Libório foi de facto a pessoa que me fez querer dar um dos maiores passos que já dei até hoje na minha vida. Foi ele que me fez ver o que estava mesmo diante de mim e que eu não via por diversas razões. Foi através dele que senti a necessidade de dar o tal passo, passo esse que construiu aos poucos a nossa base, a nossa relação. Sim, porque é tudo muito bonito, muito perfeito, mas só ao inicio, depois começam a aparecer as divergências, os atritos e a falta de “pachorra” para muitas coisas.

É preciso saber construir e moldar ao outro, para que as coisas resultem. Só assim iremos conseguir encontrar o nosso caminho.
“Amor é Amor Sempre, e quando se ama, ama-se, ponto final.”
Onde há amor, há verdade, e existindo verdade, está tudo certo.


Libório: Tudo começou da forma mais simples hoje em dia. Pelas redes sociais! Tudo teve início aí. Apesar de no dia seguinte termos estado juntos, tudo começou aí. Foi a base. Ao longo dos dias fomos nos conhecendo, e apesar de ter quase tudo acontecido repentinamente, soube que era isto que queria, que era aqui que estava bem.

Fomos-nos conhecendo como um casal normal, mesmo já depois de ter uma relação assumida, e hoje cá estamos nós. Mais de um ano depois, tal como no primeiro dia! Juntos, a viver por e para isto que é esta relação que nos une.





Margarida Menezes: No inicio sentiram alguma forma de preconceito em assumirem o vosso namoro, ou essa questão nunca se levantou?

Ricardo: Da minha parte houve sim preconceito, não vou mentir. Um preconceito misturado de medo e vergonha, o qual eu afastei rapidamente da minha cabeça.
Um dos factores que me “influenciou” bastante nessa mudança repentina foi a força do Libório, o acreditar dele e o “querer muito” da parte dele. Por mim ficava só entre nós e estava feito. Engraçado que essa força veio dele e não de mim, digo isto porque ele é mais novo, e por norma, aconteceria ao contrário, mas no nosso caso não, foi ele. (Ele que acabara de sair de uma fase bastante atribulada da vida dele, que tu podes testemunhar melhor que eu até) 

Ele quis logo contar para todos que nós namorávamos, que namorava comigo, e confesso que ao inicio achei tudo muito estranho e muito rápido, mas passado algum tempo percebi que até fazia sentido. Porquê esconder?

Não há tempo predefinido para nada, não há nada que me obrigue a esperar não sei quanto tempo para assumir uma relação, ou um pedido de casamento. Se duas pessoas que se juntam, sentem vontade para isso, e se acreditam que pode resultar, porque não?


Claro que há tempo para tudo. Mas o amanhã pode não chegar, é incerto, para quê perder tempo com medos?


Comecei a pensar assim depois de ter perdido a minha mãe. Num dia festejamos que ela estava livre do Filho da p*ta do cancro e no outro morreu de ataque de coração, nem me despedi dela no dia que ela se “despediu” desta vida.

E não há metáfora melhor que esta para percebemos realmente como as coisas são e a importância que o tempo tem nestas circunstâncias.
Desde aí, nunca mais perdi tempo com m*rdas. Se quero alguma coisa, faço por consegui-la, sem saber sequer do que os outros vão achar.
Nós pelo menos tentamos pensar assim. Viver como nós queremos e ter por perto só quem gosta de nós e acima de tudo, quem acredita em nós.


O preconceito está na mente das pessoas, está lá enfiado, e muitas vezes é muito difícil de o tirar de lá. É preciso, em alguns casos, ir lá e dar um abanão, para ver se faz luz naquelas cabeças.
É verdade que nem todos vão aceitar, não têm que aceitar, mas ao mesmo tempo que nós temos que aceitar que alguém não nos aceita, esse alguém também tem que aceitar que somos assim e só estamos a viver a nossa vida, da forma como queremos e entendemos.

Infelizmente não é fácil assumir uma relação como a nossa, porque ainda vivemos num período triste. Espero que a próxima geração já encare “isto” como uma coisa normal e que as pessoas sejam mais abertas. Tenho fé, apesar de tudo.

Libório: É claro que o início foi muito complicado. Pelo menos para mim, pois foi a primeira vez em que assumi algo com alguém do mesmo sexo que eu. É óbvio que ficou aquela sensação do não saber o que a família iria pensar, do que os amigos iriam dizer, etc. Não havia certezas de nada! Se nos iam aceitar, se não. Hoje em dia, essa questão nem se levanta. Família… A maioria tornou-se insignificante, não importando de todo a opinião que possam vir a ter. 

Quanto aos amigos, os verdadeiros mantêm-se, inclusive mantêm uma relação comigo e com o Ricardo de maneira completamente normal, e são tanto meus amigos como dele, sem nunca terem levantado uma questão sobre aquilo que somos. Os verdadeiros ficam sempre. E esses sabem e sei quem são.




Margarida Menezes: O amor tal como a liberdade, devia ser universal, mas hoje em dia parece que vivemos numa «liberdade camuflada». Quem ousa sair do padrão comum tem mil dedos apontados! Vocês são exemplo da expressão «Viver o amor sem medos». Qual o segredo?

Ricardo: Não é assim tão fácil quanto parece. É preciso muita coragem, para se conseguir sair do tal padrão comum, é preciso querer-se muito para enfrentar o olhar fixo e maldoso das pessoas, por exemplo. Mas nós não passamos muito por isso, porque eu, como tu sabes, tenho uma forma muito característica de me exprimir e de me “dar”. 


Na rua, nós dificilmente nos beijamos, é quase fora de questão, não por medo, mas por respeito. Pelas pessoas e por nós. Ninguém é obrigado a ver. Claro que quem não quer ver não olha, mas é mais a questão do respeito. A mim também me incomoda o facto de ver duas pessoas a se “lambuzarem” à minha frente, independentemente da orientação sexual. Não acho que seja necessário, a nossa intimidade é nossa, fica para nós.

O Libório tem muita dificuldade em perceber isso, por vezes ele pensa que faço por mal ou por não querer estar com ele. Mas não é nada disso. É assim que eu consigo ser.
Com isto, não estou a dizer que nunca trocamos afecto na rua, tem vezes que ele me abraça e me dá um beijo sempre rápido e vice-versa, mas eu chamo-o sempre à atenção, e quando sou eu a tomar iniciativa de lhe dar a mão ou até mesmo de lhe abraçar, ele espanta-se e fica a olhar para mim, como quem diz: “olha as pessoas, não te aproximes de mim. Cuidado.” Em tom de gozo. Mas tirando a parte de que prefiro namorar no nosso espaço, é bom sermos livres e toda agente saber que somos um casal, é uma sensação de quase como que estamos a conseguir marcar a diferença e a visão de muita gente.

O meu segredo, não digo “nosso”, porque temos formas diferentes de pensar e de agir, mas eu diria que é a arrogância misturada com força e amor, sem perder o respeito pelos outros claros, mas é isso, é o meu segredo para seguir com a minha vida em frente. Arrogância misturada com força e amor.
E se formos a ver, serve para tudo na vida, não só nesta circunstância, mas para tudo, há muita gente maldosa por ai, que não sabe lidar com a felicidade dos outros, e temos que saber lidar e afastar essas pessoas do nosso caminho.

Libório: A sociedade é o meio em que vivemos todos os dias, e acabamos sempre, bem ou mal, por viver numa «liberdade camuflada», como a chamas. É óbvio que querendo ou não, as pessoas vão sempre olhar, as pessoas vão sempre falar do que vêm, e cá na Madeira, não é excepção, muito mais quando vivemos num meio mais fechado onde as pessoas ainda têm uma mentalidade antiga.

Apesar de serem cada vez mais as pessoas que aceitam, ou simplesmente não opinam, há sempre aquelas que demonstram o contrário, e que apontam o dedo, como se namorar com um rapaz fosse crime, ou algo do género. Há que entender que independentemente de tudo e do que possam pensar, há é que ser feliz.

Não é regra que o homem foi criado para a mulher e vice-versa. Não há regras no amor! Amor é amor, é ser livre. E é esse pensamento que falta a muitas pessoas. Isto reflecte-se nas nossas atitudes para com a sociedade… Apesar de demonstrarmos amor, seja em casa, ou na rua, é claro que quando estamos no mundo cá fora, acabamos por nos retrair mais um pouco com medo daquilo que possam dizer.



Há que mudar mentalidades, e acredito que daqui a uns anos, ter uma relação homossexual, será tão normal como namorar com uma mulher. Por enquanto, esta é a sociedade que vivemos… Uma sociedade que precisa de evoluir e mudar pensamentos e mentalidades sobre este assunto, que acaba por ser considerado um tabu entre as pessoas.


Margarida Menezes: O que é que vocês mais gostam um no outro?

Ricardo: Remetendo-me para o primeiro dia que o vi, o que mais gostei nele foram os olhos, chamaram-me logo à atenção, aquele verde, depois o sorriso. São duas, coisas, que gosto muito nele. (ele vai se achar ainda mais depois disto)
Mas agora, conhecendo-o melhor gosto muito da essência dele, ele é um rapaz simples que luta pela vida. Ele dá valor ao simples, ao básico, e isso é muito importante.
Gosto também da voz dele, já lhe disse que podia apostar em cantar, mas ele diz que não sei o que digo, das pestanas, as famosas pestanas que não precisam de rímel ahaha. Gosto da letra dele e da organização dele, é tão organizado que às vezes até me irrita, com tanta coisinha que ele inventa para arrumar e organizar. Gosto sobretudo da pessoa que ele é, quem o conhece como eu ou até melhor sabe do que falo. Ele é muito boa pessoa.





Libório: Gosto muito do Ricardo, é um gostar, um adorar e um amar incondicional! É claro que todos têm as suas coisas menos boas, e ainda bem que assim é! No que toca ao que mais gosto… Gosto muito da sua simplicidade, pois por ser uma pessoa que já passou muito na vida, faz com que essa característica nele se destaque. É uma pessoa simples, muito querida, com muito amor para dar e receber também. Gosto muito do facto de este ser carinhoso e romântico (não tanto quanto eu), mas mais do que suficiente para que me sinta bem e feliz nos seus braços. Fisicamente gosto muito do seu sorriso, sorriso, esse que quando é natural, contagia todos ao seu redor. Há sempre aspectos a melhorar, mas os positivos destacam-se. Há sempre que olhar para o lado bom das coisas! É uma pessoa maravilhosa, e acho que todos os que convivem com ele num meio mais próximo entendem o que digo.

É uma pessoa da qual vale a pena viver ao lado. É fantástico. É o homem da minha vida!




Margarida Menezes: Já namoras te anteriormente com alguma rapariga ou sempre «repudiaste» essa ideia?


Ricardo: Namorar à seria com uma rapariga nunca namorei. Tive umas paixonetas na escola, mas nada de mais. Lembro-me que houve uma rapariga interessada em mim, mas eu não lhe dei hipóteses porque já desconfiava gostar de rapazes e como não me aceitava não consegui contar-lhe, então fingia que não me apercebia das intenções dela.

A partir dos 16 anos comecei a ter muitas dúvidas sobre mim, sobre o meu corpo e sobre o que eu era. Andei durante algum tempo perdido, até que um dia decidi procurar ajuda, e finamente percebi quem eu era e que só restava-me aceitar a pessoa que eu era. Mas digo-te que foi uma fase muito complicada, à qual eu tenho orgulho de falar abertamente porque sei que fiz o melhor que podia ter feito, fiz o que achei que estava certo e por sorte encontrei muito boa gente no meu caminho.

Libório: Sim, no meu caso já.


É claro que no meio em que crescemos, existe um «padrão» em que fomos feitos para as mulheres, daí ter tido «relações» com raparigas… As tais chamadas relações do tempo de escola. Ao longo do tempo, fui-me conhecendo melhor, e aprendi a questionar-me sobre aquilo que realmente gostava para mim. Cheguei à conclusão de que este gosto não é algo que escolhemos ter, mais sim algo que vem connosco desde sempre! E aprendi a olhar para esse gosto e demonstrar para tudo e todos aquilo que sou. Aos 18, aí sim, assumi a minha primeira relação com um rapaz, contra tudo e todos, mas muito feliz e realizado! No entanto o que conta é a minha opinião, e aquilo que quero para mim. Nada melhor do que sentir-me bem e realizado.



Margarida Menezes: Na altura da escola já olhavas para os meninos de forma diferente ou passavam completamente despercebidos?


Ricardo: Como já referi em cima, eu na altura da escola já andava cheio de dúvidas, houve ali uma altura muito complicada, que foi quando eu tive a certeza que não gostava de raparigas e que eram os rapazes que me atraiam. 


Tinha que esconder que era gay e que olhava para os rapazes como as raparigas olhavam. Foi tudo muito estranho e complicado, porque fui muito sozinho nesta fase, nem em casa nem na escola se falava disto, então o facto de não falar com ninguém tornava tudo mais difícil para mim.
Foram tempos difíceis, só quem passa pelo mesmo é que percebe o que te estou a dizer.



Mas sim, de uma forma ou de outra eu olhava e apercebia-me que eram eles, os rapazes que me despertavam atenção, aquela que um rapaz sente por uma rapariga, era igual, só que eu por um rapaz.


Libório: Nessa altura de escola, este assunto ainda não significava nada para mim. No entanto, quando comecei a pensar que poderia gostar de rapazes, não demonstrei muita importância, pensando que seria apenas uma fase, aquela típica fase de confusão sobre a orientação sexual. 

Só numa fase mais adulta, aí sim, comecei a ter uma mentalidade diferente sobre a minha orientação, mas nunca demonstrando a ninguém aquilo que poderia ser. Isto, por ter um certo receio do que poderiam pensar sobre a minha pessoa, apesar de saber hoje em dia que a nossa orientação sexual não afecta em nada o ser humano que somos.


Margarida Menezes: Quais os vossos planos de futuro? Imaginam casar um dia mais tarde?

Ricardo: Os meus planos são muitos, a cada mês, tenho mais uma coisa para acrescentar na lista de coisas por concretizar. Mas sim, acho que a vida sem planos não é a mesma coisa, não tem piada.


Quero viajar até me fartar, quero ter a minha casa, o meu carro e os meus filhos, e claro que casar também, mas para isso há muito tempo.

Por enquanto foco-me em viver bem e divertir-me, aproveitar a vida como ela é e com tudo o que ela pode me dar. Daqui a uns anos pensamos no resto.
A vida são 2 dias, passa tudo muito rápido, mas também há tempo para tudo, desde que façamos tudo no seu tempo certo. Primeiro investir e depois concretizar. Poupar para depois gastar. Viver para depois recordar...Cada coisa no e a seu tempo.

Libório: 

Sempre foi um sonho meu casar, e não é por ser homossexual que esse sonho não se realizará! Sou muito de sonhos, e hei-de realizar este sonho tão grande que tenho. Venha o que vier, venha quem vier! 

Gostava muito de sair do país e celebrar esse casamento fora daqui, fora deste meio em que vivemos. Realizar o meu sonho num lugar onde sei que a homossexualidade é aceite na sociedade e que seja especial para nós. Outros planos para o futuro, é ter uma vida normal, a nossa casa, o nosso carro, e ser feliz, havendo sempre respeito entre nós.


Margarida Menezes: Eu sou vossa prima por isso sou suspeita, mas atrevo-me a dizer: Vocês são dos casais mais bonitos, mais unidos e mais felizes! Qual a receita mágica para esse amor, amizade, dedicação? São muito mais felizes que muitos casais «convencionais», ou seja, heterossexuais! O que é que isto vem a provar?


Ricardo: É bom que consigamos passar essa ideia, e transmitir isso, embora não seja assim tão fácil quanto parece.
Não passamos de duas pessoas que se gostam e que querem muito construir uma vida a dois. Já passamos por algumas coisas que nos fizeram crescer e certamente iremos passar por muitas mais. Não é tudo perfeito como aparenta, acho que o perfeito só existe nos contos de fadas (também temos os nossos dias maus).

Mas concordo contigo quando afirmas que somos dos casais mais bonitos, mais unidos e mais felizes. Porque apesar de todas as nossas divergências, nós conseguimos dar a volta por cima e resolver o quer que seja que nos faça discutir.

Acho que o segredo é o que sentimos um pelo outro. A receita é, muitas vezes engolir sapos e virar as costas quando as coisas azedam, como se costuma dizer.
Já passamos por muito, tu sabes de um acontecimento que marcou a nossa vida, a nossa história, não pelo melhor sentido, que fez-nos crescer, fez-nos ver a vida de outra forma, e são acontecimentos como esse, que fazem com que olhemos para trás e demos valor ao que realmente importa, valorizar apenas aquilo e quem é realmente importante. O resto é só o resto.

Somos sim muito felizes e unidos, temos as nossas discussões como qualquer outro casal, mas isso faz parte. Já fizemos tantas, coisas, juntos e iremos fazer cada vez mais, se Deus permitir.



O que é que isto vem a provar?
Vem a provar que o amor é universal.
Amor é amor, ponto final.

Prova que nós também somos uma forma de amor, que desde que haja respeito e compreensão pode haver amor/relação entre duas pessoas do mesmo sexo.
Isto serve para abrir mais um pouco os olhos das pessoas, para perceberem que afinal não é preciso se gostar de uma mulher quando se é homem, e vice-versa.
Para construir uma família, basta haverem duas pessoas que se amem e que queiram muito partilhar de uma vida a dois, e é isto que choca mais as pessoas, o facto de duas pessoas do mesmo sexo fazerem vida a dois e o facto de haver filhos em famílias homossexuais.


É tudo igual, vai dar tudo ao mesmo, se houver amor e respeito, os nossos filhos serão iguais aos “vossos”, a todos os outros. AMOR É AMOR, PONTO FINAL.


E é por uma realidade mais igual e por mentes mais abertas que eu aceitei dar esta entrevista. Devíamos preocupar-nos mais em viver a nossa vida do que a dos outros, preocupar-nos em servir o nosso pais e fazer sempre melhor a cada dia, não se este gosta daquele e se aquela faz aquilo ou se deixa de fazer.

Libório: O facto de ser homossexual não significa que tenhamos de ser menos felizes que os casais heterossexuais, pelo contrário! Acredito plenamente que somos muito mais felizes que muitos casais constituídos por homens e mulheres que vivem juntos e são casados. 


A felicidade não tem receita! Há que viver bem, respeitar-se e aproveitar cada momento como se fosse o último. Cada beijo, cada abraço, cada noite, etc. 

Nunca sabemos o que pode acontecer amanhã, daí ter esta ideia de aproveitar cada dia e cada momento da melhor maneira. Ainda por mais estamos numa relação, somos jovens, e temos de ter tudo, mas o mais importante é ter muito amor para dar e receber! É isso que nos une, e que nos faz felizes. Não somos perfeitos, discutimos como outro casal qualquer, mas há que saber acima de tudo resolver os problemas por mais pequeno que seja. É esse o segredo da nossa felicidade!



Margarida Menezes: Costuma-se dizer «onde não há, ciúme não há amor»! Qual dos dois é mais ciumento e porquê?

Ricardo: É bem verdade, uma relação sem discussões e sem ciúmes não é uma relação, se alguém namora sem discussões e sem ciúmes, alguma coisa está mal.
De nós os dois o mais ciumento é o Libório, poderia dizer que somos os dois por igual, mas conhecendo-o bem digo que é ele, e ele vai concordar.
Da minha parte, os meus ciúmes advêm mais pelo facto de ter medo de o perder ou que se apaixone por outra pessoa, tento controlar-me, mas quando dou por mim estamos a discutir por coisas tontas, aqueles ciúmes tontos, mas que acabam por existir e por prejudicar a relação se não soubermos por um travão quando é preciso.

Libório: Arrisco-me a dizer que sou eu o mais ciumento. Acho que toda a gente que convive connosco sabe disso. Não sei se há razão para uma pessoa ser ciumenta, mas o facto de estar numa relação, que já tem mais de um ano, com um rapaz bonito e jovem faz com que haja sempre estes pequenos ciúmes daquilo que possa acontecer. O ciúme de aparecer alguém que retire o meu lugar é frequente, e esse é um dos meus maiores defeitos. Apesar de tudo, havemos de confiar sempre em quem temos no nosso lado, e deixar os ciúmes de lado. Hei-de trabalhar nisso, e usufruir da nossa felicidade.



Margarida Menezes: Uma mensagem que queiram deixar a quem tem medo de assumir e mostrar o amor que sentem por alguém, por medo do preconceito ou de serem descriminados por isso.

Ricardo: A mensagem que gostava de deixar é a seguinte:


Por mais que aches difícil não tenhas vergonha daquilo que és nem daquilo que sentes. Nunca te culpes por nada, nem te interrogues porquê que vieste ao mundo, porque para essa pergunta haverá milhares de respostas e só as vais encontrar quando aceitares a pessoa que és e viveres o teu caminho em paz com o mundo e contigo próprio(a). Procura ajuda no caso de não te sentires preparado(a) para contar à tua família ou amigos, alguém desconhecido conseguirá ajudar-te, por vezes é muito mais fácil falar com quem não nos é nada do que com a família. (em alguns casos) Ou então, ganha coragem e tranca-te no quarto com a pessoa com quem mais confiança tens e diz-lhe, chora, agarra-te a ela e deita para fora o que tanto te atormenta, há conversas que mesmo sem palavras são muito mais explícitas do que quando se tenta falar e não se consegue. Escreve, no final do dia, o que te faz sentir mal, aponta tudo e depois rasga o papel, vais sentir-te bem melhor depois disso, ou então guarda e relê o mesmo papel dai a um tempo, e verás a forma como evoluíste e cresceste desde o dia que escreveste naquele papel. Aconteça o que acontecer nunca, deixes de ser quem és, um dos maiores segredos é este, valoriza sempre o que sentes, pondo-te sempre em primeiro lugar. É importante que nunca nos esqueçamos que para podermos amar alguém na sua plenitude, temos que nos amar a nós próprios em primeiro lugar e só depois é que teremos amor suficiente para o outro. Eu sei que falar é fácil, eu próprio passei pelo mesmo, se calhar até por pior ou então não, mas mesmo assim, não percas a força nem a coragem, ela está aí contigo, dentro de ti, só tens que a deixar vir à tona e seguir em frente. Acreditar, é muito importante. Ver e querer ver a luz ao fim do túnel, mesmo quando nem sequer se enxerga luz nenhuma, mas o querer vê-la, o crer nela, é deveras importante. Ela existe e existirá para ti um dia, só tens que saber esperar e fazer com que a consigas alcançar o mais rápido possível. Nada na vida é fácil, nunca foi nem nunca será, para tudo é preciso muito trabalho e muito esforço, e neste caso, no teu caso, não é excepção. Trabalha-te, melhora tudo o que podes melhorar, ajuda os outros, faz tudo pelo melhor, deixa para trás o que não te faz bem e verás que muita coisa vai melhorar. Aos poucos tudo se vai encaixar e fazer sentido. O tempo é algo importante e só ele é que cura muitas das coisas que nos afectam. Mesmo sem te conhecer, quero que continues a lutar e a acreditar. Um dia a vida irá sorrir-te. Só tens que acreditar.
Um muito obrigado por esta oportunidade a ti querida, Margarida Menezes, é um enorme privilégio poder falar e deitar tudo para fora mais uma vez, é sempre bom desabafar. Contudo espero fazer diferença na vida de alguém com este desabafo. Obrigado mais uma vez, prima linda.

Libório: 

Para as pessoas que se encontram nessa situação, apenas quero dizer que não tenham medo, e que não se escondam pensando no que os outros vão pensar de vocês. Mais do que ser feliz com alguém, é sentir-se realizados e felizes connosco próprios!

 A homossexualidade não é uma doença, não é um crime! Mau seria situações roubar, matar, violar e agredir como ouvimos todos os dias nos noticiários. A orientação sexual é apenas um factor e isso não muda em nada quem somos! O meu segredo é, que vivo para mim, e que o que faço entre quatro paredes fica para mim e com que está comigo. Para os restantes, muito prazer, sou o Libório. E nada mais saberão de mim ou daquilo que faço. É esse o segredo!
A vida é curta de mais para vivermos escondidos com medo dos outros. Nada mais importa, do que nós e o nosso bem-estar. O importante é estar bem e realizado, só assim seremos felizes.






Eu só vos posso desejar muito e muito mais amor e que sejam sempre felizes e realizem os vossos sonhos e aquilo que o vosso coração pedir. 
Obrigada pelo vosso exemplo e testemunho o mundo precisa de pessoas como vocês sem medo de amar para avançar mas acima de tudo de pessoas sem medo de serem felizes...

Adoro-vos de todo o coração...


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